sábado, 8 de agosto de 2009

poeta bom, meu bem, poeta morto

Em algum lugar onde nunca estive, e felizmente aquém
De qualquer experiência, teus olhos guardam seu silêncio:
Em teu gesto mais frágil há coisas que me envolvem
Ou que não posso tocar porque estão muito próximas

Teu olhar mais leve facilmente me descerra
Embora eu me tenha fechado como dedos,
E me entreabres sempre, pétala por pétala, como a Primavera
(Por toques habilidosos, misteriosamente) abre a primeira rosa

Ou se teu desejo é me fechar, eu e
Minha vida nos fecharemos formosa e rapidamente
Como quando o coração desta flor imagina
Que a neve - cuidadosamente - está caindo em toda a parte;

Nada do que podemos perceber neste mundo se compara
Ao poder de tua intensa fragilidade; cuja textura
Me compromete com a cor de seus países
E me entrega para a morte cada vez que respiro

(Nada sei do que te faz tão poderosa
Ao me mover; mas algo em mim compreende apenas
Que a voz de teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
Ninguém, nem mesmo a chuva, tem as mãos tão pequenas.


e.e. cummings

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Nalgum lugar em que eu nunca estive, alegremente além
De qualquer experiência teus olhos tem o seu silêncio
Do teu gesto mais frágil há coisas que me encerram
Ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto

O teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
Embora eu tenha me fechado como dedos, Nalgum lugar
Me abre sempre - pétala por pétala - como a Primavera
(Abre) tocando sutilmente, misteriosamente a sua primeira rosa (sua primeira rosa)

Ou, se quiseres me ver fechado, eu e
Minha vida nos fecharemos (belamente, de repente)
Assim como o coração desta flor imagina
A neve cuidadosamente descendo em toda parte

Nada que eu possa perceber nesse universo iguala
O poder de tua intensa fragilidade, cuja textura
Compele-me com a cor de seus continentes
Restituindo a morte, sempre, cada vez que respira

Não sei dizer o que há em ti
(Que fecha e abre) só uma parte de mim compreende
Que a voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas
Ninguém - nem mesmo a chuva - tem mãos tão pequenas


zeca baleiro

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