terça-feira, 28 de outubro de 2008

Tempo

O "tic-tac" vai marcando cada momento de um dia morto e você gasta à toa e joga no lixo as horas, descontroladamente perambulando de um lugar para outro em sua cidade natal esperando por alguém ou alguma coisa que te mostre o caminho. Cansado de tomar banho de sol, de ficar em casa vendo a chuva e eles dizem: você é jovem, a vida é longa, e há tempo para desperdiçar! Até que um dia você descobre que dez anos ficaram para trás, mas eles não te disseram quando começar a correr e você perdeu a largada. Você corre e corre atrás do sol, mas ele está se pondo, fazendo a volta para nascer outra vez atrás de você e você percebe que de uma maneira relativa o sol é o mesmo, mas você está mais velho, com menos fôlego e um dia mais perto da morte. Cada ano vai ficando mais curto, parece não haver tempo para nada, planos que dão em nada, ou uma vida resumida em meia página de linhas rabiscadas.
Esperar em quieto desespero é a maneira inglesa de dizer que o tempo se foi, a música terminou, embora eu ainda tenha algo a dizer.

Pink Floyd - Time (Adaptado)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Para ler ouvindo: Pouca Vogal - Depois da curva

Escrever é afastar medos e anseios. Escrever é convicção, fato, surpresa, desabafo. Te escrevo minha cara, porque sei e porque sinto meu coração se acalentar em tua presença - presença abstrata essa que eu sinto - e me conforta saber que ainda tenho a quem escrever, mesmo depois de anos, idas e vindas, ainda me resta você. Houve um tempo em que andávamos em bando, sempre muitos. Nesse tempo (não tão distante) eu era outro livro. Um livro aberto (hoje sou diário e cadeado) a história deste livro era conhecida por meus amigos pois eu sempre que me via a frente de qualquer problema corria para as páginas de ajuda, como aquelas páginas amarelas da lista telefônica. Contava tudo e os conselhos vinham aos montes. E eu precisava deles (os conselhos) e dos olhares de compreensão (eu acho que eram), precisava compartilhar tudo com eles - meus muitos amigos - que aliás nos últimos dias, posso contar nos dedos e não enchem nem meia página amarela. Mas, voltando um pouco a fita, (agora é que vem o clímax), eu, tomada de sentimentos, conflitos internos, confusões sem pé nem cabeça, descobri ele. O Personagem. Permita-me tecer alguns comentários a respeito de. Ele era o que se pode chamar de... Ele era ... Ele. É. Para ele essas são as palavras. Talvez não haja nada além. (não que Ele não seja nada além, muito pelo contrário). Na verdade, uma ou talvez duas palavras possam defini-lo, aqui vai: personagemáscara. Não inveje minha criatividade por favor.
O fato é que esse tal, esse Ele, sem querer querendo, sem ao menos conhecer-me conhecendo, seduziu meus pensamentos, induziu, metamorfoseou. Tudo assim, como quem não quer nada (ok, essa parte é mentira). O fato é que (2), eu me deixei metamorfosear, mas ao contrário das lagartas eu não me tornei nem bela, nem livre. Olhando o quadro geral, somando tudo e tudo mais, não vejo "fins lucrativos" ou resultados positivos, como queira. Meu coração virou gelo e, agora com o inverno é ainda mais difícil derretê-lo. Mas eu vou. Eu vou. Vou.

domingo, 19 de outubro de 2008

Vento, vela e velocidade

Ontem quando você disse que tem algo diferente, eu não entendi. Repete. Ãhn? olhou com os olhos verdes e as bochechas ruborizadas do frio da madrugada. É. ontem. O que mudou? Nós? Eu? Você tem mania de começar os assuntos e deixar tudo solto, igual papel no vento. Pois bem, disse eu tentando fazer cara de sério. Eu não sou papel, e não quero te perder pro vento. Riu, depois me olhou e falou diminuindo o passo. O vento não tem força pra me tirar de perto de você. Nunca. Nunca? indaguei, e emendei: Nunca diga nunca. Eu digo, porque quando estou com você é eterno. O que eu disse ontem.... foi o medo. Abaixou a cabeça. Medo? Desde quando você tem medo? Na verdade, eu senti pela primeira vez em anos de amizade e cumplicidade que ela precisava de mim, ali exatamente onde estava. Me abraça, como se o Big Bang fosse invadir o Universo, como se fosse o início do fim. Ela abriu os braços, com os olhos fechados e de novo, aquele gostinho de frio e o vento esvoaçando seus cabelos cor-do-sol. Eu na minha eterna condição de amante, a abraçei como se o Big Bang já tivesse passado e apenas nós dois tivéssemos restado. Foi como se todo o calor do Sol estivesse reunido ali, naquele metro quadrado, naquele milésimo de segundo. Eu podia sentir seu coração, como se ele estivesse pulsando dentro de mim. E pulsava, tum tum tum tum

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Sol e frio

21:21. Será que ele pensa em mim? Nem assim, como quem não quer nada? É, talvez ele não pense nada. Mas eu penso, e como. Eu sempre penso, em tudo, em todos, daria um livro com tantos pensamentos (sem fundamento, alguns) e.. vai saber. Que será que ele faz agora? Lendo um livro, talvez, ou tomando banho. Amanhã é segunda, dia de ir pra escola, acordar na madrugada e, sabe que eu não concordo quando dizem que ninguém consegue pensar em nada tão cedo, por que eu penso. NELE. Boba, tenho que parar, tenho que dormir - diz a parte racional do meu subconsciente confuso - tenho é que falar com ele, isso sim. Não, não posso. Já fiz isso algumas vezes, agora é a vez dele. Boba de novo. E se o mundo acabar amanhã? Ele precisa saber... Sinceramente, não sei como eu me aguento. Boba, boba, por que não vou logo falar com ele? Não há de ser tão difícil assim, seria apenas uma conversa; casual normal. Eu? Normal? É difícil... Não tenho culpa, e como tanta coisa na minha cabeça.. oras! Falando em horas, preciso dormir, amanhã é dia novo e (tomara que faça sol e frio) tenho prova e não estudei. Será que ele está estudando agora? Deve estar falando com alguma amiga (ele tem muitas amigas) talvez eu seja só mais uma amiga. Mas e se eu não for só uma amiga? Como é que eu vou saber? Mas que raio de garoto complicado eu fui inventar de gostar, conhecer, tornar-me amiga, ou seilá o que. Lá vem meus pensamentos querendo se manifestar... - Complicado? Por favor, ele é normal, e comum. A complicada é você! - Ah não, ele não é nem normal e nem comum.. se não eu não gostaria dele. Ah, eu nem conheço ele assim tão bem. Bem que eu queria. Não, eu não queria nada. Eu queria ir dormir, isso sim - não minta Ana, não minta. Será que ele vai pra aula amanhã? Mas ele senta tão longe... e conversa a aula toda! Tem um sorriso bonito, olhos bonitos - não começe, não exagere, ele é normal, eu insisto - Agora é só o que me faltava.. dar ouvidos a mim mesma; subconsciente; inconsciente; outra metade; meus pensamentos, seilá o que. Agora eles falam... pensamentos... Talvez eu devesse ouvi-los como diz uma música.. não me lembro bem, e agora já não importa também. Vou dormir, sonhar, quem sabe. Se ele pensa em mim ou não, agora não importa. Pelo menos até amanhã... (tomara que faça sol e frio)

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Culpa de quem?

É engraçado ver estrangeiros visitando o Brasil e como eles curiosamente são muitas vezes mais interessados em nossos costumes e cultura do que a maioria de nós brasileiros. Certa vez presenciei uma conversa de dois amigos e, enquanto um insistentemente falava mal do Brasil e de suas condutas imorais e corrupção, o outro o bombardeava dizendo que, se não está bom aqui ele que vá morar em Serra Leoa então. Pois bem, que seja. E porque raios ele não disse: "Se não está bom aqui, mude-se para Zurique então." Creio eu que seja mais fácil mostrar como milhões de pessoas estão vivendo, ou melhor tentando sobreviver em condições desumanas no meio de constantes guerras civis e fome, do que falar das políticas de saúde e segurança na Suíça, do melhor chocolate do mundo e da educação dos habitantes daquele país de primeiríssimo mundo. Pois o efeito de culpa - por sequer pensar nos problemas do Brasil enquanto existem países infinitamente piores - causado é imediato (para alguns). Mas agora fico pensando naquele amigo sentado numa mesa de bar já um pouco embriagado, e que culpa, me digam que culpa tem ele de ter nascido no Brasil? Afinal até onde eu sei, ninguém nos pergunta aonde gostaríamos de nascer. Agora vai alguém me dizer que é nossa culpa também ter nascido no Brasil, um país emergente que, apesar da "conhecida e velha amiga" desigualdade social é sem dúvidas (ou quase) um ótimo lugar para morar. Tá certo, nem todos hão de concordar comigo, mas ninguém pode negar que a fama de boa hospitalidade e simpatia dos brasileiros é recíproca. Tá certo também que algumas coisas são relativas, e o Brasil é sim um maravilhoso país se você nasce em uma boa família que lhe dá as devidas condições para se levar um vida digna e, como dizem os mais velhos "ser alguém" e toda essa velha história de oportunidades e sorte que já virou senso comum. E como esse é um assunto muito extenso, eu poderia mudar minha tese e pensar que o sentimento que querem causar é de revolta, para que eu me torne mais uma dessas pessoas engajadas nessas lutas de defesa aos fracos e oprimidos e para que quem sabe, algum dia isso dê algum resultado. Acho que o único resultado nessa história de voluntários da ONU na Africa é meramente uma sensação de dever cumprido, e uma alma calejada diante de tanto sofrimento alheio e insatisfação com a conivência de autoridades que podiam sim fazer alguma diferença, mas não o fazem por acomodação ou questões de interesse particular. Não que eu seja uma expert do assunto, representante de alguma Ong ou coisa parecida. Mas fica a dúvida, de quem é a culpa?