terça-feira, 14 de outubro de 2008

Culpa de quem?

É engraçado ver estrangeiros visitando o Brasil e como eles curiosamente são muitas vezes mais interessados em nossos costumes e cultura do que a maioria de nós brasileiros. Certa vez presenciei uma conversa de dois amigos e, enquanto um insistentemente falava mal do Brasil e de suas condutas imorais e corrupção, o outro o bombardeava dizendo que, se não está bom aqui ele que vá morar em Serra Leoa então. Pois bem, que seja. E porque raios ele não disse: "Se não está bom aqui, mude-se para Zurique então." Creio eu que seja mais fácil mostrar como milhões de pessoas estão vivendo, ou melhor tentando sobreviver em condições desumanas no meio de constantes guerras civis e fome, do que falar das políticas de saúde e segurança na Suíça, do melhor chocolate do mundo e da educação dos habitantes daquele país de primeiríssimo mundo. Pois o efeito de culpa - por sequer pensar nos problemas do Brasil enquanto existem países infinitamente piores - causado é imediato (para alguns). Mas agora fico pensando naquele amigo sentado numa mesa de bar já um pouco embriagado, e que culpa, me digam que culpa tem ele de ter nascido no Brasil? Afinal até onde eu sei, ninguém nos pergunta aonde gostaríamos de nascer. Agora vai alguém me dizer que é nossa culpa também ter nascido no Brasil, um país emergente que, apesar da "conhecida e velha amiga" desigualdade social é sem dúvidas (ou quase) um ótimo lugar para morar. Tá certo, nem todos hão de concordar comigo, mas ninguém pode negar que a fama de boa hospitalidade e simpatia dos brasileiros é recíproca. Tá certo também que algumas coisas são relativas, e o Brasil é sim um maravilhoso país se você nasce em uma boa família que lhe dá as devidas condições para se levar um vida digna e, como dizem os mais velhos "ser alguém" e toda essa velha história de oportunidades e sorte que já virou senso comum. E como esse é um assunto muito extenso, eu poderia mudar minha tese e pensar que o sentimento que querem causar é de revolta, para que eu me torne mais uma dessas pessoas engajadas nessas lutas de defesa aos fracos e oprimidos e para que quem sabe, algum dia isso dê algum resultado. Acho que o único resultado nessa história de voluntários da ONU na Africa é meramente uma sensação de dever cumprido, e uma alma calejada diante de tanto sofrimento alheio e insatisfação com a conivência de autoridades que podiam sim fazer alguma diferença, mas não o fazem por acomodação ou questões de interesse particular. Não que eu seja uma expert do assunto, representante de alguma Ong ou coisa parecida. Mas fica a dúvida, de quem é a culpa?

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